A
QUESTÃO AMBIENTAL DA NOVA ORDEM MUNDIAL
Durante a ordem mundial bipolar a
questão ambiental era considerada secundária. Somente os movimentos ecológicos
e alguns cientistas alertavam a humanidade sobre os riscos de catástrofes
ambientais. Mas a grande preocupação dos governos - e em especial da grandes
potências mundiais - era com a guerra fria, com a oposição entre o capitalismo
e o socialismo. O único grande risco que parecia existir era o da Terceira
Guerra Mundial, uma guerra atômica entre as superpotências de então. Mas o
final da bipolaridade e da guerra fria veio alterar esse quadro. Nos anos 90 a
questão do meio ambiente torna-se essencial nas discussões internacionais, nas
preocupações dos Estados - e principalmente dos grandes centros mundiais de
poder - quanto ao futuro.
Já antes do final dos anos 80
percebia-se que os problemas ecológicos começavam a preocupar as autoridades
soviéticas, norte-americanas e outras, mas sem ganharem muito destaque, Houve
em 1972, na Suécia, a Primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente,
promovida pela ONU e com a participação de dezenas de Estados. Naquele momento,
a questão ambiental começava a se tornar um problema oficial e internacional.
Mas foi a Segunda Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, a ECO-92 ou
RIO-92, realizada no Brasil vinte anos depois da primeira, que contou com maior
número de participantes (quase cem Estados-nações) e os governos enviaram não
mais técnicos sem poder de decisão, como anteriormente, e sim políticos e
cientistas de alta expressão em seus países. Isso porque essa segunda
conferência foi realizada depois do final da guerra fria e o desaparecimento da
“ameaça comunista” veio colocar a questão ambiental como um dos mais
importantes riscos à estabilidade mundial na nova ordem. Além disso, os
governos perceberam que as ameaças de catástrofes ecológicas são sérias e
precisam ser enfrentadas, e que preservar um meio ambiente sadio é condição
indispensável para garantir um futuro tranqüilo para as novas gerações.
Mas a problemática ambiental suscita
várias controvérsias e oposições. Os países ricos voltam suas atenções para
queimadas e os desmatamentos nas florestas tropicais, particularmente na
floresta Amazônica, a maior de todas. Já os países pobres, e em particular os
que têm grandes reservas florestais, acham natural gastar seus recursos com o
objetivo de se desenvolverem. “Se os países desenvolvidos depredaram suas matas
no século passado, por que nós não podemos fazer o mesmo agora?”, argumentam.
Alguns chegam até afirmar que essa preocupação com a destruição das florestas
tropicais ou com outras formas de poluição nos países subdesenvolvidos ( dos
rios, dos grandes centros urbanos, perda de solos agrícolas por uso inadequado,
avanço da desertificação, etc.) nada mais seria que uma tentativa do Norte de
impedir o desenvolvimento do Sul; a poluição e a destruição das florestas,
nessa interpretação, seriam fatos absolutamente naturais e até necessários para
se combater a pobreza. Outros ainda - inclusive países ricos, como o Japão, a
Suécia ou a Noruega - argumentam que é uma incoerência os Estados Unidos
pretenderem liderar a cruzada mundial contra a poluição quando são justamente
eles, os norte-americanos, que mais utilizam os recursos naturais do planeta.
Todos esses pontos de vista têm uma
certeza razão, e todos eles são igualmente limitados ou parciais. Os atuais
países desenvolvidos, de fato, em sua maioria depredaram suas paisagens
naturais no século passado ou na primeira metade deste, e isso foi essencial
para o tipo de desenvolvimento que adotaram: o da Primeira ou da Segunda Revolução
Industrial, das indústrias automobilísticas e petroquímicas. Parece lógico
então acusar de farsante um país rico preocupado com a poluição atual nos
países subdesenvolvidos. Mas existe um complicador aí: é que até há pouco
tempo, até por volta dos anos 70, a humanidade não sabia que a biosfera podia
ser irremediavelmente afetada pelas ações humanas e existiam muito mais
florestas ou paisagens nativas no século passado do que hoje.
Nas últimas décadas parece que o
mundo ficou menor e a população mundial cresceu de forma vertiginosa, advindo
daí um maior desgaste nos recursos naturais e, ao mesmo tempo, uma consciência
de que a natureza não é infinita ou ilimitada. Assim, o grande problema que se
coloca nos dias atuais é o de se pensar num novo tipo de desenvolvimento,
diferente daquela que ocorreu até os anos 80, que foi baseado numa intensa
utilização - e até desperdício - de recursos naturais não renováveis. E esse
problema não é meramente nacional ou local e sim mundial ou planetário. A
humanidade vai percebendo que é uma só e que mais cedo ou mais tarde terá que
estabelecer regras civilizadas de convivência - pois o que prevaleceu até agora
foi a “lei da selva” ou a do mais forte - , inclusive com uma espécie de
“Constituição” ou carta de gestão do planeta , o nosso espaço de vivência em
comum. É apenas uma questão de tempo para se chegar a isso, o que provavelmente
ocorrerá no século XXI.
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